Os termos básicos do acordo firmado entre Israel e Hamas preveem a libertação de 50 mulheres e crianças mantidos como reféns em Gaza, em troca de 150 prisioneiros palestinos e uma pausa de quatro dias nos bombardeios e combates. Nas entrelinhas, há mais: o estímulo à desaceleração de uma guerra que dura seis semanas, mediante a soltura de mais sequestrados do Hamas.
Uma das cláusulas divulgadas pelo governo israelense estabelece que “a libertação de cada dez reféns adicionais resultará num dia adicional de pausa”. Deixa em aberto, portanto, o tempo que duraria a suspensão das operações no território palestino.
Esta possibilidade acalma, em parte, as famílias dos sequestrados, que pressionam intensamente o governo pela libertação de todo o grupo de 240 retidos em Gaza.
Como bem resumiu o colunista David Ignatius, do “Washington Post”, o princípio do acordo é a fórmula “mais por mais”, utilizada nas negociações sobre controle de armas: se o Hamas entregar mais reféns, Israel está disposto a prolongar a pausa.
O jornal “Jerusalém Post” antecipou que o número de libertados nessa primeira fase poderia chegar a 80, calcado no mesmo princípio – o de encorajar novas libertações.
A pausa inicial de quatro dias nos combates começaria amanhã, às 10h (5h em Brasília). A logística é complexa. Israel publicou nesta quarta-feira (22) uma relação de 300 prisioneiros palestinos — mulheres e jovens, que não tenham cometido homicídios. A maioria é formada de adolescentes presos em confrontos na Cisjordânia.
O Tribunal Superior de Justiça avaliará, ainda nesta quarta, qualquer petição contrária à libertação dos presos. Da lista inicial, cabe ao governo selecionar os 150 presos. Os reféns serão soltos em grupos, a cada dia. Israel cedeu à exigência feita pelo chefe do Hamas, Yahya Sinwar, de interromper os voos de drones durante a libertação, por um período de seis horas por dias, para que seus combatentes não sejam monitorados pelos serviços de inteligência.
Nas negociações intermediadas pelo Catar, o grupo palestino alegou não conhecer a localização de todos os reféns, já que parte deles estaria em poder da Jihad Islâmicas e de facções menores ou mesmo, detidos em casas de famílias. O argumento, contudo, não convenceu especialistas de inteligência, que partem da premissa de que o Hamas exerce o controle total sobre o que ocorre na Faixa de Gaza.
O acordo com o grupo palestino conta com a bênção das Forças de Defesa Israelenses, do Mossad e do Shin Bet — as principais agências de inteligência do país —, mas provocou cisão na ala-dura que sustenta o premiê Benjamin Netanyahu.
Seus aliados de extrema direita, como o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, que chamou o acordo de imoral, clamam que a pausa nos combates mostra a fraqueza do governo e dará ao Hamas capacidade de se reorganizar. O fato é que, embora Netanyahu repita que Israel está e continuará em guerra, o premiê acabou cedendo ao que disse que jamais cederia.
G1