Nei Nervis (PT) foi eleito prefeito em Passos Maia, Santa Catarina. Ele foi o único integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que venceu uma disputa para a prefeitura em 2024, com 1.653 votos, 54,23% dos votos válidos. Apesar disso, ele diz que não sairá do assentamento onde vive.
Atualmente, o político é presidente da Câmara dos Vereadores e agricultor. Inclusive, cultiva soja em uma área de 300 hectares, de acordo com a Folha de S.Paulo.
O jornal aponta que essa é a primeira vez que o grupo se organizou nacionalmente para lançar candidaturas a vereador, vice-prefeito e prefeito e conseguiu eleger 133 candidatos, contando com 87 políticos aliados e 46 membros efetivos, entre acampados ou assentados. O prefeito eleito conta que nasceu em áreas ocupadas pelo MST, portanto, não deixará o assentamento Sapateiro para ocupar o posto de chefe da administração municipal. A cidade, localizada 480 km de Florianópolis, tem sua economia baseada em madeireiras, gado leiteiro e produção de grãos.
Com cerca de 5 mil habitantes, mais da metade são assentados, segundo Nervis. A política não é uma novidade em sua vida, já que seu pai, Norino Nervis, foi vice-prefeito da cidade por oito anos. O homem participou da ocupação da Fazenda Ameixeira, em 1995. Na época, mais de 1.200 pessoas estavam envolvidas, e o movimento deu origem a três assentamentos na cidade. Na cerimônia de posse, no dia 1º de janeiro, o filho deve usar o terno e a gravata que guardou do pai, falecido em 2011.“A gente se criou dentro do MST, em barracos de acampamentos e assentamentos. Trabalhamos primeiro com enxada e foice, depois com animais, cavalo, bois. Depois foi carvão, passamos para gado leiteiro. Depois de muitos anos que a gente começou a poder comprar algumas máquinas. Hoje a gente tem um parque de máquinas”, contou.
A oferta de crédito e a mecanização do trabalho possibilitou aos sem-terra expandir a produção nos assentamentos. Entre as promessas feitas na campanha, Nervis prometeu aos grandes produtores investimento em programas de troca de adubação e de renovação de máquinas. Já aos pequenos, ele se comprometeu com a instalação de uma feira de produtos, na qual funcionários públicos poderão comprar com um cartão criado pela prefeitura exclusivamente para isso.
A cidade possui uma Secretaria de Reforma Agrária e, com a nova gestão, estará concentrada em regularizar a documentação dos assentados, cerca de 500 famílias. Segundo o novo prefeito, a documentação será levada até o Incra para que saiam os Contratos de Concessão de Uso (CCU) e as escrituras dos terrenos. “Também vamos destinar máquinas para essa secretaria, que deverão ser usadas somente pelos assentados”, explica.
O líder do movimento diz que a discriminação no Estado em que o bolsonarismo é uma potência já foi maior e que na cidade os eleitores votam “mais nas pessoas que nos partidos”. “Antes do primeiro governo Lula, os atendentes de banco não recebiam bem a gente. Depois ficou mais civilizado e então conseguimos ter acesso a máquinas”.
Com Portal Terra